2020: A dança que resistiu ao silêncio do mundo
O ano de 2020 começou como tantos outros: com energia, planos e o desejo de seguir criando arte em movimento. No dia 16 de março, apresentamos coreografias do espetáculo (Des) Caminhos durante a Semana de Recepção do curso de Licenciatura em Dança da UFRN, celebrando os reencontros e dando boas-vindas a novos estudantes com a força poética do nosso trabalho. Mal sabíamos que aquela seria nossa última apresentação presencial do ano.
Poucos dias depois, o mundo parou.
A pandemia de COVID-19 se espalhou pelo planeta, mudando radicalmente nossas rotinas e percepções. A UFRN suspendeu todas as atividades presenciais por tempo indeterminado. O impacto foi profundo: nossos corpos sentiram a ausência do toque e da sala de ensaio; nossas mentes buscaram compreender a gravidade do momento; nossos espíritos precisaram de tempo para ressignificar a arte em tempos de isolamento.
Mas mesmo em meio à incerteza, a dança resistiu. Levamos nossos encontros para o formato remoto e, pouco a pouco, redescobrimos formas de dançar à distância. Espaços se transformaram, telas viraram palcos e os gestos buscaram novas formas de conexão.
No dia 2 de maio, nasceu uma parceria potente: a convite da coreógrafa Debi Irons da Art Moves (EUA), integrantes do GDUFRN e da Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão (CDTAM) se uniram para criar “A Questão is When The Question é Quando”. A obra, realizada no contexto da Cottage Street Creative Exchange, reuniu corpos e essências em diálogo sensível através do vídeo e do movimento, reafirmando que a arte ultrapassa fronteiras – geográficas e emocionais.
Em 18 de junho, lançamos o vídeo “Abraça-me”, uma criação que expressou o afeto através do gesto do abraço – símbolo da saudade, da ausência e do desejo de proximidade em tempos de distanciamento social. O trabalho foi um convite à empatia, ao cuidado e ao reencontro simbólico com o outro.
Em agosto, realizamos uma série de postagens no Instagram do GDUFRN apresentando cada integrante daquele ano. Um gesto simples, mas carregado de significado: dar rosto e voz àqueles que mantinham vivo o coletivo, mesmo em tempos de dispersão.
O auge do ano veio com um evento especial e comovente: entre os dias 12, 13 e 14 de novembro, realizamos o “Memórias da Dança na UFRN”, uma celebração online pelos 30 anos do GDUFRN. O evento contou com participações da Gaya Cia de Dança, da Roda Viva Cia de Dança, da Cia de Dança dos Meninos e uma emocionante homenagem ao mestre Edson Claro (in memorian). Idealizado por Teodora Alves e Larissa Marques, com mediação de Ana Lincka, o encontro foi um mergulho coletivo em histórias, imagens e afetos que marcaram três décadas de resistência e criação.
Durante todo o mês de novembro, promovemos uma série de lives no Instagram do grupo, com integrantes do GDUFRN compartilhando suas trajetórias, experiências artísticas, a entrada na universidade e no grupo. Foram conversas sinceras, afetivas e inspiradoras – um registro vivo da importância da arte na formação humana e profissional de nossos bailarinos.
2020 foi um ano desafiador. Mas também foi um ano de escuta, de pausa e de reinvenção. Seguimos dançando, mesmo quando tudo dizia para parar. Seguimos juntos, mesmo separados. E aprendemos que a dança, mais do que nunca, é um ato de esperança.
Por: Ana Lincka
Integrante do GDUFRN e aluna do PPGARC/UFRN
GDUFRN – Grupo de Dança da UFRN
Dançar para não esquecer. Dançar para continuar.
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